A Maria da Sopa continua esquisita. Há uns tempos ainda tinha dúvidas se era ela a esquisita ou se seria eu a má cozinheira. A conclusão a que chego é que há uma mistura das duas coisas, mas ela vence na esquisitice.
Faça o que faça, a única coisa que come mais ou menos sem questionar é sopa. Tudo o resto, se o cheiro ou o aspeto não agradar, já é meio caminho andado para não comer.
Durante a quarentena ela tem ajudado a preparar os pequenos almoços e lanches até com bastante entusiasmo, mas assim que chega a hora de comer, nem uma colher completa chega a por à boca: papas de aveia com fruta, iogurte natural com fruta, salada de morangos e panquecas, foram as receitas desta semana.
Hoje fizemos salame. Assim que a chamei para o provar disse-me: Mãe, adoro salame. É o meu preferido nas festas de aniversário. <- apenas entusiasmo de quem não vai a festas de aniversário há muito tempo. Lá também prova e não come -> Provou um grão e diz; mãe este não presta! o das festas é melhor!
Acho que precisa mas é de passar fome!
Mas enfim, haja sopa que nunca irá ter fome. Pelo menos come saudável.
Ainda me lembro do dia, ela com dois anos em que fez uma birra porque o arroz estava amarelo.
Ler com sotaque portugês do brasil >>> E aí gente, valeu? Como estão as mamães desta vida? Fazendo Yoga? Ou despachando vídeos no TicToc com a criançada? Não se preocupem. As creches abrem já no dia 18 de Maio. Bora lá despachar a criançada para a creche…
#sóquenão
Vamos ficar aqui mais um tempo sossegadinhas, a ver como a coisa corre. Sempre que saio de casa, coisa rara nos últimos dois meses, volto sempre com sintomas << psicológicos >> de covids. Vou continuar a trabalhar de casa e visto que tenho essa possibilidade, vamos continuar por cá.
Posto isto, e como tenho de entreter a criançada, hoje andámos na limpeza dos brinquedos. E digamos que é impressionante a tralha que se acumula. Claro que a culpa é imaginem de quem: dos pais. Ah, dos avós também. Um euro aqui, mais dois ali, ou porque é giro, ou então são os desenhos animados preferidos, mais uma ida ao McDonalds ou ao Burger King e os Ovos Kinder e a Páscoa e brindes e aquilo é engraçado e vai distraí-las 5 minutos e mais sei lá o quê, dá em coleções gigantescas de bonecos e tralha que não há explicação. Já sei que vou ser insultada e vai parecer que só me alimento de fast food e chocolates, mas com esta idade já tanto me faz o que os outros pensam.
#desde2014aacumulartralha
McDonald's , Burguer King, lembranças de viagens de trabalho, operação nariz vermelho, e coisas inúteis que comprei.
Coleções de monstros de uma fast food qualquer.
Coleções de coisas de uma cadeia de fast food qualquer.
Super heróis, Lady Bugs, Gato Noir, Elsa e Ana, Power Rangers, Minímos, Pikachu vindos de McDonalds, Burguer Kings e Ovos Kinder e mais não se de onde.
Mais do mesmo.
Smurfs, Bailarinas, Coleção de Família do Lidl, etc.
Coleção Patrulha Pata de uma feira qualquer, repetições vindas de chocolates, PJ Masks também de chocolates e Ovos Kinder, Pandas e Vampirina com a Gergória que comprei na loucura desses desenhos animados.
Coleção Mickey, animais Playmobil, mais uns animais que não sei de onde vieram.
Se contei bem 25 bonecos Playmobil. Para que é que precisam de 25 bonecos?
Não se sintam sozinhos. Eu também estou aqui, cansada, de cabeça cheia, com remorsos, mas acredito que valeu a pena e que o pior já passou. Mais mês, menos mês, isto volta tudo a um novo normal. Vou considerar que estive a fazer um mestrado em educação de infância pós-laboral sendo que nunca vou saber se fui bem-sucedida e qual a classificação final. Na minha tese de mestrado irão aparecer coisas muito interessantes e passivas de análise, como gritar que nem uma louca, deixar as crianças comer doces sem controlo, deixá-las abandonadas na sala, rezar para que elas consigam entreter-se sozinhas sem me interromper, deixá-las ver televisão ou youtube quando deveriam estar a dormir a sesta.
Não se iludam, isto não fica por aqui, a lista é interminável.
O desespero leva-nos a fazer coisas impensáveis: troquei as regras da aplicação Family Link que controla os horários e a duração do tempo que o tablet está inativo, para apenas o inativar aos fim-de-semana e após o meu horário de trabalho. Agora é "wake up and play no matter what". Desliguei o controlo dos jogos que instalam. Estavam sempre a interromper-me nas reuniões para eu apontar o nome do jogo para instalar depois (maldita publicidade nos jogos grátis). Dei-lhes acesso sem controlo a uma Playstation 2 e a uma Nintendo (NES) clássica. Um comando já não funciona e os cds estão cheios de dedadas. Mais dia menos dia, posso dar os jogos como falecidos e fazer o funeral às minhas relíquias de infância.
Quando começo as minhas aulas de mestrado, em horário pós-laboral, além do cuidado que tenho de ter para não pisar os milhões de brinquedos espalhados pelo chão, a criançada ainda me cobra centenas de brincadeiras, pois estão sempre aborrecidas.
Fiz uma encomenda de colas, tintas, canetas, folhas, tesouras e tudo o que é possível de imaginar numa creche e pré-escolar para fazer atividades, que acabam sempre por se revelar super interessantes para a educadora e com interesse quase nulo nas crianças. Basicamente elas começam entusiasmadas, passados cinco minutos o entusiasmo passou a zero e é a educadora que acaba por terminar as atividades sozinha ou então o entusiasmo é tanto que agarram nas tintas e começam a espalhá-las por tudo o que é chão e cortinados. E aí, é o meu entusiasmo que passa a nulo e a minha voz que começa em modo gritos.
Juro que quando as miúdas falam comigo, já só as consigo ouvir a gritar.
Mesmo assim estou orgulhosa do novo mural da parede da cozinha que já me custou 2 rolos de fita cola, uma vez que é impensável ser a educadora a colar os trabalhos das crianças. Qualquer criança de 3 anos e 5 anos tem autonomia suficiente para colar um trabalho à parede com fita-cola e às vezes com facas que vão buscar à gaveta às escondidas. Haja paciência. Convém salientar que a maior parte dos trabalhos estão arquivados num dossier chamado lixo uma vez que a parede não dá para tudo. Um caso de estudo seria investigar porque é que a única tarefa que entusiasmou a criançada nesta confusão de trabalhos foi fazer a varicela ao Pikachu.
Depois ainda posso agradecer à RTP2 e às maravilhosas ideias de um programa que não sei como se chama (dá no Zig Zag). O resultado é este:
Tenho de admitir que nesta quarentena este foi o jogo que as crianças mais se divertiram. Passar por uma teia de papel higiénico para coletar objetos, com tempo limitado e sem rasgar o papel higiénico, foi muito divertido com entusiasmo semelhante a um parque de diversões de insufláveis. Este teve direito a pódio e prémio e à criançada ir dormir sem reclamar.
Da parte que me toca e pensado em tudo o que este mestrado me trouxe, tenho ainda a salientar algumas situações:
- O Clássico: estar em reunião e de repente uma das crianças gritar "mãe cocó nas cuecas" cinco vezes. Uma vez não chega, pois enquanto não houver resposta por parte do recetor da mensagem, a criança não percebe que foi ouvida. Fez-se silêncio, foi feito um comentário que nem ouvi com atenção, pedi desculpa e ausentei-me da reunião.
- O Desespero: não consigo contabilizar as vezes que deixei os colegas a falar sozinhos, desliguei o microfone e gritei que nem uma louca a pedir por favor para me deixarem trabalhar, que estava na reunião mais importante do dia e que aquilo que me estavam a pedir não tinha importância. Quando voltei à reunião estavam a comentar que eu deveria estar com um problema técnico com o microfone pois não estava a responder, ao qual eu confirmei... Muito cansativo ter que explicar a importância do pedido de uma criança. Há quem perceba, há quem não perceba...
- A Fome: a criançada quando fica aborrecida, fica com fome. E com fome todos entram em desespero. Começam a empurrar as cadeiras da cozinha para alcançarem as bancadas, sobem para cima da bancada para abrir os armários onde estão as coisas que não é suposto comer. Sujeitas a cair e irem para ao hospital, lugar esse que todos queremos evitar. Esta situação aciona a situação do Desespero.
No meio deste caos ainda foi possível ensinar à criança de quase 3 anos como usar o bacio. Por incrível que pareça e no meio de alguns gritos involuntários (outra vez), em pouco mais de um mês deixámos de precisar de fraldas de dia e de noite. É a maior das vitórias nesteaquarentena mestrado. Yupi.
Deem lugar à paciência que tudo se resolve. Coragem!
Princesa Peach e Pikachu com Varicela!
Nota: O papel higiénico foi aproveitado, não se assustem...